sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Natal: uma linda cidade completa 410 anos com muita história
Sabes que hoje, dia do Natal, a cidade completa 410 anos de fundação? Pois é, em meio a tantos festejos natalinos, o "mero" detalhe do aniversário de Natal quase passa desapercebido. A reportagem do Diário de Natal ouviu três personalidades que dedicaram seus estudos e pesquisas à construção de uma biografia da cidade, com seus fatos históricos e as cenas pitorescas de suas gentes.


FORTE DOS REIS MAGOS

"Natal é uma cidade de encanto. Trato-a como uma mulher. É toda curva, uma cidade feminina com seu rio e suas dunas. Gosta de se vestir bem", afirma o presidente da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras (ANL), Diógenes da Cunha Lima. A singularidade viria já a partir de seu nome, a única cidade do mundo em que é Natal o ano inteiro.

Diógenes lembra que Natal nasceu a partir do desejo do rei mais poderoso do mundo, Felipe II, rei da Espanha e de Portugal. "A ordem era expulsar os invasores, construir uma fortaleza e criar uma cidade. Já nascemos com essa condição". A missão chegaria na fozdo Potengi no dia 25 de dezembro e a primeira capela seria inaugurada um ano depois na mesma data. Já a fortaleza começou a ser montada no dia 6 de janeiro, Dia de Reis. "Até Nossa Senhora veio morar em Natal, quando sua imagem apareceu boiando no Potengi e aportou na Pedra do Rosário".



PONTE NEWTON NAVARRO(RIO POTENGI)

Diógenes também lembra que Natal é uma cidade rebelde. "Em 1789, antes do império, André de Albuquerque proclamou a república. Muito antes de Cuba, Natal teve um regime comunista, em 1935. Em 1946, O general Dutra foi eleito presidente com maioria em todo país, mas aqui quem ganhou foi Yedo Fiúza, do Partido Comunista".


ARCO DO SOL

MORRO DO CARECA

Em relação às mulheres, o escritor cita o pioneirismo de Clara Camarão, primeira guerreira do país; Nísia Floresta, a primeira feminista; Auta de Souza, a primeira poetisa a ganhar reconhecimento nacional. "Tivemos o primeiro voto feminino no Brasil e antes mesmo da Europa, a primeira prefeita Alzira Soriano, a primeira deputada Carlota Pereira de Queiroz".

Natal foi pioneira da aviação, teve o aeroporto maismovimentado do mundo, durante a Segunda Guerra Mundial e foi palco do acordo entre os presidentes Vargas e Roosevelt que selou a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que daria impulso ao processo de industrialização no país.

Daqui veio Luís da Câmara Cascudo, o maior escritor etnográfico do país. "Cascudo foi a pessoa que mais estudou para caracterizar o que é o Brasil e o brasileiro. Sua obra é monumental e cresce a cada dia nas universidades do país". Natal e o seu Baobá do Poeta teriam sido fonte de inspiração para o francês Exupéry escrever o "Pequeno Príncipe", o segundo livro mais lido em todo mundo, traduzido em mais de 100 línguas.

Ribeira e Cidade Alta

O historiador Itamar de Souza afirma que Natal passou praticamente três séculos "se arrastando entre a Ribeira e a Cidade Alta". De sua fundação, em 1599, até a Proclamação da República, em 1889, Natal era praticamente uma aldeia, sede do governo.

A República trouxe novo impulso. "O estado passou a ser governado por seus próprios filhos, o que ocasionou iniciativas importantes". O segundo governo de Alberto Maranhão (1909-1913) é lembrado como período em quem entramos no século XX, com a energia elétrica na cidade, bondes e rede telefônica. O governo de Rafael Fernandes, após a Revolução de 1930, também é marcado pelo progresso, com a primeira rede de esgoto.

Mas as mudanças viriam com maior impacto a partir da Segunda Guerra Mundial. "A Guerra causou um impacto muito grande em Natal, mudando em muitos aspectos a estrutura da cidade". Com a Parnamirim Road, conhecemos o asfalto. As construções de bases militares, principalmente a naval, no Alecrim, são apontadas como investimentos importantes para a cidade. A população dobrou em dez anos, passando de 54 mil habitantes em 1940 para 105 mil habitantes em 1950. Durante a gestão de Djalma Maranhão, o asfalto se espalha pelas principais vias da cidade. No início da década de 60, as primeiras faculdades dão origem à UFRN, por iniciativa do governador Dinarte Mariz. A última fase vem nos anos 70, período de muitas mudanças na cidade.

Expressões culturais tiveram desenvolvimento gradual

Em termos culturais, o historiador e folclorista Deífilo Gurgel relata que Natal desenvolveu suas manifestações muito lentamente em relação a outras cidades do país. A dificuldade de colonizar os territórios foi um fator decisivo. A invasão holandesa e a revolução indígena também abreviaram o florescer dessas manifestações durante o século XVII. De acordo com Câmara Cascudo, o fandango começa a aparecer a partir de 1790, mas a primeira apresentação pública de uma dança organizada só viria em 1812 com a apresentação do Auto do Fandango, com a encenação da Chácara da Nau Catarineta. "Enquanto o grupo se apresentava no tablado, o presidente da província cantava a plenos pulmões, algo totalmente inesperado e difícil de imaginar hoje em dia".

Há relatos de pastoris na cidade nos tempos da Guerra do Paraguai e de Tambores de Congo em frente à Igreja do Rosário em idos de 1880. O bumba meu boi veio em seguida. Cascudo assistia a autos populares quando criança, de grupos que vinham a Natal vindos dos engenhos de cidades vizinhas apresentar o Boi Calemba. Adulto, escreve diversos livros sobre as danças folclóricas potiguares. Durante a gestão de Djalma Maranhão, Natal conhece sua fase áurea com a realização de festivais de folclore e apresentações das danças. "Hoje essas manifestações são apresentadas a qualquer hora, em datas cívicas. Mas tradicionalmente isso só ocorria entre o Natal e o Dia de Reis".

Deífilo afirma que os apresentadores dessas manifestações são muito apegados à tradição, um fator positivo para a sua preservação. "Isso não aconteceu em outras cidades, onde essas danças mudaram terrivelmente. Aqui, as vestimentas, jornadas e músicas devem ser as mesmas de quando surgiram. Os administradores deveriam sempre se interessar por isso, colocando essas manifestações em sua evidência e autenticidade, e não arremedos como acontece frequentemente". Ele aponta que os atuais meios de comunicação poderiam servir para preservar e valorizar as tradições, mas contribuem para "encalhar" essas manifestações. "Só a ignorância é zombeteira, dizia Cascudo".

Presépio

O pesquisador defende também que o presépio seja tomado como a verdadeira manifestação natalina na cidade. O maior simbolismo do Natal é o presépio, uma herança da nossa tradição ibérica e que deveria ser a estrela guia de toda comemoração natalina. Em outras cidades ele é reverenciado, mas aqui temos poucas notícias de presépio. Papai Noel e árvore de natal não têm nada com a nossa cultura e tradição".

Fotos: divulgação


Por Luiz Freitas, do Diário de Natal
Fonte: dnonline

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